terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mais do que uma reunião de palavras, um desabafo!

As notícias correm rápidas, e foi da forma mais depressa possível que tomei conhecimento do vídeo de Jaqueline Carvalho, professora do ensino fundamental de uma escola da rede particular em Salvador, Bahia, que foi filmada fazendo coreografias eróticas em um show de pagode, “abalando" a sociedade baiana. Antes de ver o vídeo fiquei pensando durante o percurso do ônibus, o porquê de tanta exploração, após vê-lo cheguei as minhas conclusões. Apenas é um parecer das idéias que ficaram passando em minha mente, e diante de tantas informações, transbordaram.
Esse vídeo pode ser analisado de várias formas, devo citar aquelas que me parecem mais relevantes:
- a exploração do vídeo na mídia, referindo-se sempre a protagonista como "a professora";
- como a mulher é vista não somente no pagode, mas na sociedade como um todo;
- as conseqüências dessa exploração nas relações sociais.
Antes de mais nada, devo dizer que enquanto ritmo gosto do pagode, e o vejo muito além das perspectivas que os outros julgam, como um ritmo que só atinge o gosto musical das pessoas de classe baixa, por não terem acesso à outros meios.
Devo ressaltar, também, que há letras de pagode onde o machismo impera, reproduzindo as relações em que a mulher é vista como inferior, como objeto, em que pode ser manipulada e consumida a qualquer momento, como se fosse uma simples mercadoria.

Mas essas músicas muitas vezes reproduzem o que está implícito na sociedade, onde vivemos em país que foi necessário se criar a Lei 11.340/06, a Lei Maria da Penha, para combater a violência contra as mulheres; que foi necessária a fixação da Pensão Alimentícia, pois estas são vítimas de exploração, maus-tratos e abandono de lar. Não há como negar, que presenciamos um país que as relações sociais reforçam e reproduzem esse sexismo.

E meus caros nos espantamos quando vemos um vídeo considerado como “absurdo”, quando na verdade ligamos a nossa Tv, lemos o nosso jornal e outros aparatos, e nos deparamos com o ABSURDO do Senado Brasileiro; assistimos silenciosamente ao ABSURDO do genocídio brasileiro contra negros e índios ( irmãos que são mortos brutalmente a cada dia, por intolerância); o ABSURDO do analfabetismo brasileiro; o ABSURDO da saúde, educação e segurança pública ( direitos que não chega para a maioria);

o ABSURDO da miséria e da fome ( onde muitos fazem do lixo o seu luxo).

E depois desligamos a nossa Tv etudo se vai em nossa mente, com a escuridão da tela.

Eu, Adilane dos Santos, mulher, negra e estudante de Pedagogia, penso que você com o seu direito de expressão, você pode fazer o que quiser, desde que você tenha a noção que sua atitudes repercutem de forma direta na sua vida, e indiretamente na vida de outras pessoas, benéfica ou maleficamente.

Mas devemos pensar até que ponto nós usamos bem o nosso direito de expressão. Presenciamos todos os dias a má utilização dos aparelhos jornalísticos, que usam as notícias como espetáculo ( assassinato em massa de negros e índios), os crimes na Internet ( como exemplo a Pedofilia), dentre outros.

Outro ponto que deve ser questionado , é o ritmo musical pagode, especificamente as suas letras.

Não se pode esquecer o que leva as pessoas gostar do pagode é o ritmo, pois nosso corpo é vivo e ativo, se expressa e a dança é uma forma de se expressar, contudo devemos selecionar o que ouvimos.

De uma forma, ou de outra venho acompanhando como a elite brasileira, vem usando estratégias para combater a ascensão social das classes mais baixas, seja querendo banir o Funk, e agora através de projetos e debates

no cenário político, está tomando uma outra dimensão no combate a discriminação e ao preconceito do movimento;

seja marginalizando qualquer manifestação cultural que venha das periferias e favelas.

Sendo assim, muito deve ser questionado, e pensado no tocante a letras pejorativas e que denigrem a imagem da mulher. Mas por que será que ninguém vê o lado positivo, e quando acontece um caso desses, de grande repercussão, toda a trajetória de pessoas que lutam pela moralização do pagode é esquecida?

Pois o pagode e o funk assim como outros ritmos, surgem a partir de movimentos sociais, no intuito de adquirir visibilidade no âmbito social, trazer à

tona que na periferia, na favela, não só existe ladrão, estuprador, homicidas, como é caricaturado nos meios de comunicação. E sim pessoas que vivem uma vida digna e lutam todos os dias para não serem arrebatadas no mundo do crime.

Infelizmente, esse vídeo e toda essa situação explorada não vieram colaborar em nada para as mulheres militantes que lutam pela dignidade e respeito da sociedade para com as mulheres;para aqueles que defendem o ritmo musical – pagode- como uma valorização de sua identidade e função na sociedade;e tão pouco para aqueles que acreditam em meios de comunicação competentes, que abordem as notícias não só como espetáculo, e sim um panorama através da informação da sociedade que vivemos.

Esse vídeo veio sim favorecer aqueles que se promovem e lucram com as repercussões e para perpetuar a desvalorização e objetificação da mulher.

Enfim, me sinto impotente diante de tantas situações já presenciadas e as próximas que virão, mas encontrei um meio de compartilhar minhas inquietações, me sentindo mais aliviada com essas palavras, deixando

um questionamento:

Até quando presenciaremos essas situações que veiculam em nossos meios de comunicação de forma silenciosa?

Veja mais

http://www.bloguei.com.br/videos/professora-dancando-todo-enfiado-atoladinha/

Axé para nós!!!!!!!!!

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